sábado, 14 de agosto de 2010

Conto: Ressaca Sempre Vem Mal Acompanhada (Parte 01)


Acordo com a cabeça pesada. Meu quarto girando tanto que meu estômago não para de reclamar. Que puta ressaca! Com os pés no chão me apoio com as mãos na cama tentando recuperar o equilíbrio. Calças, camisa, meia... Tudo jogado aos pés da cama. A outra meia, cueca, sutiã, tênis... Sutiã? Um movimento dos lençóis e minha cabeça roda à mil: quem é essa mulher na minha cama? Flashs vêm e vão rápidos trazendo imagens de ontem. Cervejas, um amigo, dose dupla de whisky, muita gente, shots de tequila, essa mulher...

Meu celular reclama em algum lugar debaixo de uma pilha de roupas. Sete ligações não atendidas de meu amigo e duas mensagens novas. 'Tava muito louco ontem, hein?! Depois me liga pra zoar tua ressaca!' Ótimo... A outra era de minha ex. 'Também sinto sua falta...' Celular, definitivamente o pior inimigo de um bêbado.

Levantei-me rápido da cama, arrependendo-me no mesmo instante. Maldita dor de cabeça. Boto minha boxer enquanto um outro celular começa a tocar. Tateando, a desconhecida pega o celular e o leva à orelha.

- Alô? Ahn? Eu tô... eu tô na casa da... da minha amiga do trabalho. Não, você não conhece. A gente bebeu demais ontem e eu resolvi dormir aqui. É, daqui a pouco eu chego em casa. Beijo.
- Pai? - perguntei procurando meus jeans.
- Marido. - falou despreocupada.
- Ah... certo. - disse enquanto minha consciência também começava a doer.
- Eu tenho que ir embora daqui a pouco... - disse se espreguiçando - Então, você não quer dar uma rapidinha de despedida?
- Fico lisonjeado com o convite mas... - meu celular tocou - Eu preciso atender o telefone! Alô?! Fala, cara! Recebi tua mensagem, sim. Tudo bem, só me dá cinco minutos. Até mais.
- Compromisso? - perguntou levantando-se nua da cama.
- P-pois é, marquei hoje com esse meu amigo de sair hoje. Digo, agora.
- Que pena... - disse com um sorriso - Você se importa deu usar seu chuveiro?
- Fique à vontade.

Ela se levantou, me deu um beijo e entrou no banheiro. Meu amigo estava para chegar, por isso chequei o estado do restante do apartamento. Tudo no melhor estilo ‘essa noite rendeu’. Garrafas de cerveja espalhadas pela sala e pela cozinha, minha camisa em cima da mesa de jantar e um salto alto vermelho jogado no corredor. Juntei algumas garrafas na cozinha e meu celular tocou quando peguei o salto alto.

- Oi?
- Bom dia. - soou uma voz feminina familiar.
- Oi... você. - as palavras me engasgaram.
- Me senti tão bem com sua mensagem ontem que resolvi te fazer uma surpresa. - disse alegre - Tô chegando aí em 10 minutinhos com pão de queijo e suco de uva pra gente tomar café.
- É mesmo?! Que bost... que bom! Você num quer demorar mais um pouquinho, não? Eu queria tomar um banho pra te receber bem cheiroso.
- Ah, que besteira. Já tô no caminho. Deixa que quando eu chegar a gente toma um banho juntos. Que tal?
- Perfeito... Beijo.

Peguei todas as garrafas de cerveja e joguei no lixo. Vesti minha camisa e peguei novamente o salto vermelho, indo até a porta do banheiro. Bati uma vez e nada. Dava para se ouvir o chuveiro ligado. Bati mais forte e a desconhecida gritou que estava saindo. Olhei no relógio, oito minutos já tinham passado e o quarto ainda estava completamente desarrumado. Uma calcinha estava pendurada em cima do abajur e toda a roupa restante jogada pelo chão. Juntei saia, sutiã e blusa, então a campainha tocou.
Larguei tudo em cima da cama e fechei a porta do quarto desesperado. Puta merda, ela chegou! A campainha tocou novamente e corri para a porta. Espiei pelo olho mágico e era apenas meu amigo com um sorriso debochado segurando uma caixa de cervejas. Abri a porta duma vez e o joguei para dentro enquanto ele protestava.

- Qual é, cara? Isso é jeito de receber um amigo bem acompanhado? - disse abraçando a caixa de cervejas.
- Você não sabe o que tá acontecendo! Tô fudido! - falei botando as mãos na cabeça.
- Calma, cara. - disse tirando duas cervejas da caixa e me entregando uma - Não existe ressaca que num se cure com cerveja!
- Não é isso! - falei abrindo a cerveja e brindando automaticamente - Minha ex tá chegando a qualquer momento com pães de queijo e tudo mais!
- Ah! Saquei! Relaxa, bicho, eu adoro pão de queijo!
- Pois é e... Do que diabos você tá falando? - perguntei desesperado.
- Sei lá... ainda tô meio bêbado, cara! - disse rindo.
- Presta atenção. Minha ex tá chegando - ele balançou a cabeça concordando - e tem uma mulher que eu não sei o nome no meu chuveiro!
- Pô, bicho, que garanhão! Tua ex vai ficar puta quando ela chegar e ver... - quase pude ver a engrenagem girando dentro da cabeça dele - ...Aaah saquei!
- É isso, cara. Você tem que me ajudar! - para o meu desespero a campainha tocou novamente.
- Pode deixar, irmão. - falou enquanto eu o empurrava para o meu quarto - Só uma mais uma coisa.
- Fala. - disse com urgência.
- Ela é gostosa? - bati a porta do quarto na cara dele e disparei para porta.

* * *

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